O pop não te quer livre
Já faz algum tempo que nos foi apresentado o vídeo “Story Of Stuff”, que denuncia de forma genial as principais falhas do modo de produção atual, e que de certa forma, explica o motivo pelo seu atual declínio. Mas em meio a toda aquela informação o que capturou meu fascínio foi a maneira como a fase de consumo é retratada no vídeo: “a seta dourada”, que sustenta sozinha todo sistema é, realmente, uma metáfora adequada.
Porém, ouso dizer que chegamos a um ponto onde o protetor da seta tornou-se mais importante que seu protegido. A mídia, que é estruturada de forma a manter a sociedade presa às amarras do chamado “senso comum” provou-se tão eficiente que se tornou uma espécie de sustentáculo da ideologia moderna.
E é nesse contexto que eu gostaria de abrir os olhos da galera para a contradição da mídia, que, de certa forma, confirma a contradição em que a própria ideologia liberalista caiu. Se antes o jargão liberal era justamente a “liberdade de expressão”, o que temos agora é um enfoque na chamada “mentalidade de colmeia”, o individualismo caminha à extinção, o uso da violência como ferramenta opressora é glamourizado na cultura popular.
Como observado, é temática frequente de vídeos na indústria da música (talvez a mais influente na nossa cultura) o culto ao “Estado Policial”: de 2009 pra cá ouve um boom de vídeos retratando alguns dos principais nomes da música internacional vestidos de farda, sorrindo, atirando, e cantando para nós, da forma mais rasa possível, enquanto que os policiais e militares da vida real (sem querer generalizar, claro) cometem absurdos como os que vimos em Guantánamo, como os que vimos no Afeganistão, como os que vimos nas favelas do Rio de Janeiro, e que muita gente aplaudiu.
A cultura pop agora é a cultura do “mais um na multidão”, enquanto ela ainda alimenta a ilusão de que somos “especiais”, reforça a necessidade de que precisamos de alguém para nos dizer o que pensar e o que fazer, nos guiar em como agir da maneira correta; a mídia reforça a ideia de que somos frágeis e que não merecemos, de fato, o individualismo. E essa ideia é justamente o oposto do que o liberalismo, a ideologia que a própria instituição defende. A cultura nunca foi tão fascista.
Entretanto, ainda não vivemos numa distopia, e eu sou daqueles que defende a tese de que, se a utopia é inatingível, também o é a distopia. Devo afirmar que o que me inspirou para escrever esse artigo foi o vídeo clipe da música Born Free, pela artista M.I.A, que basicamente denuncia as violências da polícia/exército americano, e sua política quase genocida, mudando um pouco o alvo, do estereótipo árabe/negro/latino para algo mais... “europeu”. Já vou avisando que o filme não é para os fracos de estômago, é bem direto, com miolos estourando e tudo, mas quem quiser conferir, tá na mão:
http://www.youtube.com/watch?v=OL8H2XzxifI&feature=related
É bom saber que ainda há uma contracultura num tempo em que a própria cultura é aculturada.
Henrique Gentil Marcusso, grupo 6
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