"Eu pintarei a vida das pessoas que respiram, sentem, sofrem e amam"
Edvard Munch
Indicado ao Oscar de melhor documentário, “Lixo Extraordinário” mostra o projeto social de Vik Muniz no Jardim Gramacho, o maior lixão do mundo, e como sua ação modifica a vida das pessoas que ali vivem, assim como a sua.
Muniz é um dos mais inovadores fotógrafos dessa nova geração, famoso por utilizar de materiais pouco convencionais como matéria prima para seus trabalhos.No documentário seu objetivo é inspirar-se no lixão para a confecção de novas peças, assim podendo reverter os lucros obtidos com a mesma para a própria comunidade. Esta ideia inicial logo fica de segundo plano, quando Vik conhece os catadores e reconhece ali verdadeiras personalidades, fazendo-o então mudar seu foco para as pessoas que ali vivem.
É então que a verdadeira transformação começa. Somos apresentados a sete catadores, cada qual com sua história e filosofia de vida, e o filme trabalha de forma brilhante a realidade de cada um.
Mas “Lixo Extraordinário” não é apenas mais um relato sobre a realidade das camadas mais pobres do Brasil, é também um projeto social. Ao longo do filme a percepção de mundo tanto dos catadores quanto do próprio Vik Muniz é mudada. Em relação ao artista, observamos que sua ideia inicial sobre o Jardim Gramacho e as pessoas que ali vivem (“selvagens”) sofre forte impacto após o contato com os catadores, culminando então na obtenção de uma visão mais próxima da realidade, no rompimento do senso comum. Já para os catadores, testemunhamos uma mudança do conformismo e até do ceticismo em relação à sua situação (Tião, líder da Associação Dos Catadores Do Jardim Gramacho, a princípio tira sarro de Vik, numa das primeiras cenas em que os dois se encontram.) para a realização de que, sim, eles têm capacidade para mudar sua situação (Tião mais tarde brinca: “Não faz mal, depois eu compro meu quadro de volta”).
Talvez o ponto mais importante do filme não seja o retrato das 6 personagens que vivem no lixão, e nem tampouco a arte de Vik Muniz; mas sim o retrato que ele faz do surgimento de uma nova classe social: a dos catadores.
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